A logística reversa pode dar lucro?

A geração de resíduos sólidos é um dos maiores passivos ambientais da humanidade, e ela só aumenta. A Fecomércio estima que a geração destes resíduos cresceu 26% durante a pandemia, na esteira do aumento do e-commerce e do consumo em geral. No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, colocou nas mãos de governos, empresas e cidadãos a missão de efetivar a Logística Reversa – processo pelo qual os bens e embalagens retornam do consumidor à sua destinação final, seja com a sua recuperação por meio da reciclagem, remanufatura ou upcycling, seja pela incineração ou descarte em aterros sanitários, quando a recuperação falha.

Uma década depois, o principal objetivo da PNRS está bem longe de se tornar realidade: atualmente, apenas 4% dos resíduos sólidos são efetivamente recuperados. No mercado de eletroeletrônicos, por exemplo, a geração de resíduos é estimada em 800 mil toneladas, dos quais apenas 800, ou 0,001%, são efetivamente recuperadas em triagens dos serviços de limpeza urbana e de cooperativas de catadores. Faltam caçambas apropriadas, falta consciência do consumidor, falta atratividade econômica para a indústria investir no resgate, falta uma fiscalização mais efetiva pelo poder público…

Cenário desolador? Não para todos. Há quem veja nos itens de nosso lixo diário um mercado potencial a ser explorado por operadores logísticos que identificam sinergias entre o trabalho que já realizam, entregando produtos novos, e a logística reversa de resíduos sólidos, fonte de uma enorme e insuspeitada riqueza.

Compartilhando os ativos

Embora as toneladas de lixo sólido que geramos anualmente apresentem certa parcela de metais valiosos, como ouro, prata, cobre e alumínio, a dificuldade de sua extração em meio a materiais de pequeno valor residual, como vidro, papel, plástico e madeira, inviabiliza obter lucro com esta atividade. “Do ponto de vista ambiental e legal todos tem que ser recolhidos. A questão é como recuperar com eficiência os que não tem valor residual”, aponta Maurício Ajzenberg, sócio fundador da startup LogReversa. “No mercado de resíduos do pós-consumo, a estruturação de uma cadeia para extração de produtos de baixo valor agregado apenas se viabiliza se você compartilhá-la com uma estrutura existente”.

A sinergia com o processo logístico tradicional permite que o operador logístico disponha da mesma equipe administrativa, compartilhe o espaço de galpões existentes e explore a ociosidade dos veículos de transporte em fretes-retorno de longa distância e no last-mile. Outros investimentos essenciais compreendem a contratação de um profissional da área, equipamentos de pesagem, sistemas de rastreamento mobile para comprovar a coleta, aquisição de EPIs e adaptação de veículos e de áreas de estocagem para manuseio de produtos perigosos, equipamento para separação de resíduos por peso e tipo, e máquina de prensagem de resíduos para facilitar o transporte.

A recuperação eficiente e bem estruturada da logística reversa também exige um controle financeiro robusto, escalabilidade e um planejamento inteligente de roteiros. Uma vez implementado, o processo reverso custa em média 2 a 3 reais por quilo – dez vezes mais que o obtido por um catador de lixo no processo árduo e informal que existe hoje, segundo Maurício. O valor considera o custo logístico do processo, que inclui coleta, manuseio, estocagem temporária e transferência até a destinação final para reciclagem, remanufatura ou coprocessamento.

O compartilhamento de ativos é o principal fator para reduzir o custo de operação na logística reversa, que também depende da abrangência territorial e capilaridade das operações usuais da empresa. “Há serviços agregados que também podem ser oferecidos aproveitando a estrutura de reversa, como na desmontagem de itens ou prestação do serviço de gestão e rastreabilidade de resíduos sólidos”, diz Maurício. “Desta forma, é possível aumentar o faturamento e oferecer um portfolio de serviços mais amplo aos clientes, além de uma valiosa colaboração com seus programas e metas de sustentabilidade.”

Mercado em expansão

Não há dúvida que a conscientização crescente de consumidores e a valorização de indicadores ESG pelos investidores tende a demandar uma gestão de impactos socioambientais cada vez mais rigorosa por parte de governos e empresas, formando aos poucos uma cadeia bem estruturada neste segmento. Por este ponto de vista, o negócio dos resíduos sólidos é um mercado em expansão. “A logística reversa é cara, mas é onde estão as oportunidades para operadores independentes que consigam montar processos com baixa emissão de gases poluentes graças ao compartilhamento com operações existentes”, finaliza Maurício.

Um roteiro inicial para o empresário que pretenda se lançar nesta jornada passa por contatar um profissional do ramo, uma consultoria ou procurar nas universidades, frequentar foros e eventos de logística reversa e divulgar o seu serviço nas mídias sociais e em publicações técnicas. Outro caminho promissor reside na oferta da gestão da logística reversa para associações setoriais da indústria, principalmente em áreas onde o tema é prioridade, como o de embalagens, eletroeletrônicos, têxtil, a exemplo dos pneus, latas, embalagens de agrotóxicos, óleo lubrificante, entre outros.

Vamos evoluir juntos?

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